quarta-feira, 25 de março de 2009

REDESCOBRINDO GONÇALVES DIAS

Sempre que  falamos de Gonçalves Dias lembramos inicialmente dele como fundador do nosso Romantismo; depois, é claro, do indianista. Quem nunca ouviu versos como

Não chores , meu filho
que a vida é luta
é luta renhida
que  a vida é um combate
que aos fracos abate
e aos fortes e bravos
só pode exaltar...

ou então

Tu choraste em presença da morte...!" (I-JUCA PIRAMA)

Em terceiro lugar, lembramos do poeta maranhense por sua obra mais conhecida, e com certeza a maior influenciadora da literatura brasileira subsequente, até nossos dias: A "Canção do Exílio".

Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá."

Nenhum poema foi tão adorado e tão copiado. Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu fizeram poemas semelhantes. O autor do Hino Nacional incluiu neste o famoso trecho


Nossos bosques têm mais vida
nossa vida (no teu seio) mais amores...


Depois vieram as paródias. São inúmeras. De Manuel Bandeira a Luís Fernando Veríssimo, sérios ou irônicos:

Paisagens da minha terra,
Onde o rouxinol não canta - 
- Mas que importa o rouxinol?

(Manuel Bandeira, "Sextilhas Românticas")

Minha terra tem Palmeiras
Corinthians, Inter e Fla
Mas pelo que se viu na Argentina
Não jogam mais futebol por lá. 

(Luís Fernando Veríssimo, 1979)

Mas há um Gonçalves Dias curiosamente pouco lembrado: o romântico e sensível de pérolas como "Ainda Uma Vez - Adeus" ou deste maravilhoso "Como Eu Te Amo":

Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;

Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta, 
Quando em mole vaivém a nau flutua;

Como se ama das aves o gemido,
 Da noite as sombras e do diaas cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;

Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma  imagem risonha e sedutora;

Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a vietude e a Deus.

Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, - mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada;
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti - Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.

(O poema, bastante longo, continua...)

O romantismo em Gonçalves Dias é bastante diferenciado dos demais poetas das três gerações românticas. Ele não tem o arrebatamento, a vivacidade e a sensualidade atirada de Castro Alves. Não possui a melancolia, a nostalgia e a musicalidade de Casimiro de Abreu. Nem é cerebral e planejado como Álvares de Azevedo. É simples, despojado, sem muito rebuscado nas palavras, mas artesanamente correto. É por estas razões que ele forma a trindade romântica brasileira preferida do público brasileiro: Gonçalves Dias, Castro Alves e Casimiro de Abreu.





UM ROSTO NA MULTIDÃO...

O popular "man in the crowd", o anônimo, o despercebido, tão analisado pela literatura universal...talvez lhes venha a idéia de um "Blog" a mais.

A princípio, uma confissão: - detesto blogs! São anti-literários, egoístas, visando sempre o autor e nunca o público, "ordenados" em blocos para esconder o que nunca mais se lerá... sem índice remissivo, sem lanterna de guia para o público curioso...Mas estamos em pleno século XXI e nós, escritores e literatos, estamos por baixo, agora no segundo escalão cultural. Sem Editoras, sem espaço público de recitação, como diria Drummond "sem teogonia, sem cachorro no mato". Então...

Este Blog é bífido. De um lado, minha profissão de fé, a Literatura: crônicas, poemas, apreciações, crítica literária e assuntos diversos que são parte de minha existência: música, cinema e muito mais... Do outro, minha segunda baliza, o Evangelho, onde faço a crítica da Igreja atual, tão distante dos princípios bíblicos.

ALEA JACTA EST!


Eurivan