Não chores , meu filho
que a vida é luta
é luta renhida
que a vida é um combate
que aos fracos abate
e aos fortes e bravos
só pode exaltar...
ou então
Tu choraste em presença da morte...!" (I-JUCA PIRAMA)
Em terceiro lugar, lembramos do poeta maranhense por sua obra mais conhecida, e com certeza a maior influenciadora da literatura brasileira subsequente, até nossos dias: A "Canção do Exílio".
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá."
Nenhum poema foi tão adorado e tão copiado. Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu fizeram poemas semelhantes. O autor do Hino Nacional incluiu neste o famoso trecho
Nossos bosques têm mais vida
nossa vida (no teu seio) mais amores...
Depois vieram as paródias. São inúmeras. De Manuel Bandeira a Luís Fernando Veríssimo, sérios ou irônicos:
Paisagens da minha terra,
Onde o rouxinol não canta -
- Mas que importa o rouxinol?
(Manuel Bandeira, "Sextilhas Românticas")
Minha terra tem Palmeiras
Corinthians, Inter e Fla
Mas pelo que se viu na Argentina
Não jogam mais futebol por lá.
(Luís Fernando Veríssimo, 1979)
Mas há um Gonçalves Dias curiosamente pouco lembrado: o romântico e sensível de pérolas como "Ainda Uma Vez - Adeus" ou deste maravilhoso "Como Eu Te Amo":
Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;
Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua;
Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do diaas cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;
Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;
Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a vietude e a Deus.
Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, - mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada;
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti - Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
(O poema, bastante longo, continua...)
O romantismo em Gonçalves Dias é bastante diferenciado dos demais poetas das três gerações românticas. Ele não tem o arrebatamento, a vivacidade e a sensualidade atirada de Castro Alves. Não possui a melancolia, a nostalgia e a musicalidade de Casimiro de Abreu. Nem é cerebral e planejado como Álvares de Azevedo. É simples, despojado, sem muito rebuscado nas palavras, mas artesanamente correto. É por estas razões que ele forma a trindade romântica brasileira preferida do público brasileiro: Gonçalves Dias, Castro Alves e Casimiro de Abreu.