segunda-feira, 1 de junho de 2009


ÉRICO VERÍSSIMO, NOVELISTA POR EXCELÊNCIA

 

           

                        Um autor injustiçado pelo cânone retaco brasileiro, e sempre criticado com aquela conversa velha e ultrapassada: “ Sofreu influência de Huxley, John dos Passos e Rosamund Lehman.” Ou então lembrado como um dos romancistas regionais  - outra coisa que caiu por terra – como Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e José Lins do Rêgo.

                        Alguém há de reacender a polêmica em torno de sua postura política no período da ditadura militar no Brasil – outra coisa abominável. E, por fim, sempre será lembrado como o Veríssimo pai. O filho é o cronista – não digam humorista, pelo amor de Deus – Luís Fernando Veríssimo.

                        Apesar do monumento impressionante que é O Tempo e o Vento, painel histórico da formação do povo gaúcho, Veríssimo é pouco considerado como o grande romancista que foi. Água com açúcar, sentimentalismo, dirão os críticos de Clarissa, Música ao Longe e Olhai os Lírios do Campo.

                        O que se há de fazer? Nosso universo literário dominado pelas obras impressionantes de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Clarice Lispector não tem pra ninguém. Dez Dan Browns não perfazem um terço de um Jorge Amado dos bons tempos.

                        Mas à parte essa constrangedora por parte de nossos exegetas literários, há um notável fato que distingue e alça o velho Érico acima dos demais: a novela.

                        Sim, na verdade Érico foi não só mais feliz no campo da novela – Caminhos Cruzados e Noite são os ápices disto – como ele mesmo conseguiu uma coisa impressionante (e apenas ele, mais ninguém): fundir romance e novela em uma só obra. Quase todos os seus livros passam por esse processo. O recém reeditado O Resto é Silêncio (Companhia das Letras, 2008) é o melhor exemplo disto.

A estrutura é em parte romance, uma história longa, em certo ponto obedecendo a estrutura capitular, mas com os títulos dos capítulos fazendo eles mesmo parte do descortinar do drama da suicida Joana Karewska.e de sua posterior investigação pelo alter-ego de Veríssimo, o escritor Tônio Santiago.

                        Como em todas suas obras, Veríssimo vai buscar no meio da multidão um rosto perdido, uma vida apagada, uma alma atribulada. A nariguda Tilda, o encrencado Sete-Méis, o estróina Nicanor   the man in the crowd. Drama, desencontros, tragédia pessoal, rixas de família, a cidade grande que cresce mais a cada dia e vai engolindo despersonalizadamente as vidas sem rumo. Veríssimo é novelista verdadeiro e dos bons, como A.J.Cronin e  Pearl S. Buck, como Cyro dos Anjos e seu Amanuense Belmiro.

Um comentário:

  1. Vou ser execrada se confessar que gostei de Olhai os Lírios do Campo? Realmente é bem piegas, mas eu tinha 18 aninhos...
    O Tempo e o Vento também é maravilhoso, embora não o tenha lido todo (mas um dia vou conseguir!) e desde que comecei a leitura morro de vontade de conhecer mais a fundo o Rio Grande do sul, especialmente na fronteira, São Miguel das Missões e as ruínas dos Sete Povos.
    Abração e parabéns pelo excelente blog, posts do mais alto nível!

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