quarta-feira, 3 de novembro de 2010

MONTEIRO LOBATO E A LUTA CONTRA O FASCISMO



A onda de fascismo e o racismo às avessas que tomaram conta do país há alguns anos começa a se avolumar, fazendo uma vítima ilustre e mais uma vez atingindo a honra do escritor número um do imaginário brasileiro - Monteiro Lobato.
Ao propor censura e moderação no trato com a clássica obra do escritor paulista, o Conselho Nacional de Educação (CNE) mexe com os brios e causa indignação em toda a classe intelectual, literária e artística do Brasil. "Um país se faz com homens e livros" - definitivamente, falta hombridade, senso, justiça e magnanimidade ao alto escalão da Cultura e da Educação brasileiras, com tantos disparates culturais, experimentos educacionais indevidos, mecanismos de avaliação de ensino canhestros e ineficazes e livros didáticos tortuosos e incongruentes, longe da nossa realidade cultural.
Ora, o CNE de uma vez só comete muitos erros em sua deplorável solicitação aos ensinadores do país. Ao alegar racismo e discriminação no nada ingênuo Caçadas de Pedrinho, deveria ter feito o mesmo em todos os seus livros - por toda a parte da epopéia do Sìtio do Picapau Amarelo a personagem de nome Tia Nastácia é chamada de "negra beiçuda" e outros mimos menos delicados. Era o conceito da época, e Lobato, através da parva cozinheira expõe um segmento da realidade sociológica do Brasil: o negro, recém emancipado, atrasado, semi-analfabeto, sem colocação no mercado, ainda preso aos folclores e crendices originários do
caderno de lendas indígenas e africanas. Ou seja, uma versão diferente do Jeca Tatu, o famoso capiau criado por ele para explicar por que o país não conseguia entrar na era do desenvolvimento, 100 anos após sua Independência.
Em segundo lugar, é uma medida inócua. Passados 60 anos de sua morte, a obra de Lobato continua a ser referencial e é pouco provável que os atuais pais e mães, que também vivenciaram as aventuras de Pedrinho, Narizinho e sua turma, imponham tal censura e tal fardo a seus filhos. E, além do mais, as muitas edições da obra de Lobato estão espalhados por bibliotecas, livrarias e sebos de toda a nação, dando livre acesso a quem quer que deseje conhecer melhor o pensamento lobatiano. Como diria Chico Buarque, "como vai proibir/quando o galo insistir em cantar..."
Lobato não era fácil. Homem de gênio azedo, difícil no trato mesmo com os amigos, como se pode verificar em sua vasta correspondência,construiu um império editorial, dando impulso ao hábito da leitura e da escrita no Brasil. Franco e desabusado, opôs-se ao Modernismo e às variantes culturais que então surgiam, o que o estigmatizou durante muito tempo como retrógrado e incoerente.
Então veio o desejo de que o Brasil se tornasse uma nação tão rica e tão próspera quanto seus vizinhos dos Estados Unidos da América. Em visita ao grande país ficou impressionado com o franco progresso daquela nação, balizado pelo petróleo e pelo ferro.No que tentou fazer por aqui, foi preso, processado e sentenciado. Ainda alquebrado pela perda recente de um de seus filhos, recebeu a incompreensão e a ingratidão do governo Vargas, o mesmo que perseguiu e prendeu Graciliano Ramos , Rachel de Queiroz, Dalcídio Jurandir, Eneida e Nise da Silveira.
A boneca Emília, que praticamente ofuscou e colocou como secundárias todas as demais personagens de sua vasta obra infantil, é o seu porta-voz. Desbocada, malcriada, insolente e questionadora, põe em cheque todos os conceitos culturais e sociais do Brasil e do mundo até então vigentes. No traço original de André Le Blanc e de J. Ulisses, é feia, desgraciosa, magra e mal vestida. A série de televisão da emissora que pertence ao conglomerado que detém sobre a obra de Lobato os direitos autorais e de imagem, a remodelou, colorindo-a, colocou-lhe um batom, tornando-a mais feminina e, finalmente quebrou as garras do felino, tornando-a uma personagem pateta e sem carisma, quase uma anedota. É mais uma forma de censura sobre a obra do maior escritor infantil brasileiro.

Um comentário:

  1. “Um dia se fará justiça ao Ku Klux Klan; tivéssemos uma defesa dessa ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos livres da peste da imprensa carioca -mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade construtiva”, escreveu em 1938 o escritor, censurado pelo governo por racismo.

    Monteiro Lobato era fascista/eugenista declarado. Coração de Pedra!

    http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=3187#comments

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