sábado, 18 de junho de 2011

O CINEMA, SUA TITULAÇÃO E ALGUMAS PERVERSÕES




ÚLTIMA DAS ARTES A SER assim considerada, surgindo na virada do século XIX para o XX, o Cinema é uma Arte essencialmente tecnológica, que requer um imenso esforço coletivo e que passa por um grande número de fases e estágios, desde a concepção do roteiro até a montagem final do copião. A grande aberração nesta imensa linha de montagem é a titulação, o nome com o qual o filme deverá vigorar no país, estranha errata impingida pelas distribuidoras ao público. Neste sentido os títulos dos filmes no Brasil sempre oscilaram entre o exótico, o lacrimejante, o hilariante, o ridículo, o desnecessário e o censitório.

Três curiosas perversões podem ser observadas nos títulos em português colocados nos filmes, desde os anos 20 até hoje. São elas:

I - ADAPTAÇÃO AO SENTIMENTALISMO

Esta situação tem dois aspectos singulares. Inicialmente o titulador talvez se pergunte: o título na língua original é bom? Resposta: em português pode ficar muito melhor. Então insere-se uma cunha no produto: ao propor um sentido diferente para o filme na tradução escolhida, o titulador realiza-se assim como parte integrante e criadora do produto final.
Filmes com enredo mais sentimentalistas e românticos sofrem mais com isto.

Alguns exemplos: Meu Primeiro Amor, Gente Como a Gente, O Fundo do Coração, Um Romance Muito Perigoso, A Difícil Arte de Amar, A Noviça Rebelde, Nascido Para Matar, etc

O outro aspecto diz respeito à tentativa das distribuidoras de vender gato por lebre, ou seja fazer do filme em questão o que ele não é, tentar passar para o público uma imagem diferente do filme. Parece-nos que há aqui uma grande desinteligência por parte das distribuidoras, em não conseguir apreender o significado e a essência do filme. Ou talvez se julgue o público bastante desinteligente.

Exemplo: está em cartaz o filme Namorados Para Sempre, com Michelle WIlliams e Ryan Gosling. O cândido título escolhido pela distribuidora esconde o original (Blue Valentine) e sua
verdadeira natureza: um filme forte, agressivo, amargo.

Outro exemplo: Guerra ao Terror, vencedor do Oscar do ano passado. O espectador incauto, pelo título, pode julgar tratar-se da massiva campanha dos Estados Unidos contra seus inimigos no Oriente Médio. Mas não se trata de nada disso. É apenas um recorte dentro da guerra, o cotidiano do soldado especializado em desarmar as bombas colocadas pelos terroristas no meio dos civis; daí o título original, The Hurt Locker, cuja tradução mais aproximada seria algo como O Arrombador de Cadeados.

II - JUÍZO MORALIZANTE

Filmes com roteiros mais fortes e dramáticos, ou envolvendo situações socialmente mais vistas pela sociedade como proibitivas - adultério, prostituição, desvios sexuais , uso de drogas,crime - costumam ser castigados antes mesmo do público. E tome moralismo. Amar Foi Minha Ruína, O Pecado de Todos Nós, Klute - O Passado Condena, Flor do Lodo, Bonequinha de Luxo, etc.
Este recalque censitório/cinematográfico chega a ser hilariante, se não desastroso, a julgar pela lenda que cerca o filme Persona, do sueco Ingmar Bergman, lançado em 1966. A história da famosa atriz que sofre um bloqueio emocional e é ajudada por outra mulher para superar este transe foi vista pelos tituladores da época como um filme sobre lesbianismo, daí o impressionante título em português: Quando Duas Mulheres Pecam.

III - O EFEITO RABICHO

Situação que sempre rende piadas e paródias por parte dos humoristas, a insistência dos distribuidores em acrescentar um apêndice ao título original é uma das manobras mais utilizadas para chamar a atenção do público:

Blade Runner - O Caçador de Andróides, Rambo II - A Missão, Forrest Gump - O Contador de Histórias, etc.








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