COMENTÁRIOS AO LIVRO
II - APRESENTAÇÃO (páginas 7-10)
M.CAVALCANTI PROENÇA, O CRÍTICO QUE AMAVA O BRASIL
Nascido em Cuiabá (MT) em 15 de julho de 1905 e falecido em 15 de dezembro de 1966 (no mesmo dia da morte de Walt Disney) M. (Manuel) Cavalcanti Proença fez a diferença na crítica especializada brasileira entre os anos 40 e 60.
Como apontei nestas páginas iniciais, as terras do Mato Grosso (hoje divididas em dois Estados) foram pródigas em fornecer uma literatura muito interessante, entre a aventura e a busca do conhecimento científico. Literatura essa em termos documentais, como é o caso da Retirada da Laguna, do Visconde de Taunay, sobre uma amarga derrota brasileira na Guerra do Paraguai.
Ou em termos ficcionais, como fez Menotti Del Picchia em A Filha do Inca (obra que teve em sua primeira edição o título de República 3000, depois modificado para não haver conotações políticas), livro pioneiro da ficção científica no Brasil. Ou ainda Inocência, do mesmo Taunay, obra-base de nosso estudo neste livro.
A CRÍTICA LITERÁRIA BRASILEIRA orgulhosamente ostenta seu brasão de 3 resplandecentes AAA: Afrânio Coutinho, Antônio Cândido e Alfredo Bosi, a tríade referencial para o saber acadêmico (alguém há de querer fazer adendos: Antônio Houaiss, Afrânio Peixoto...)
Mas, apesar dos méritos de sobra da nossa prata acadêmica acima citada, há que se fazer justiça a M.Cavalcanti Proença. Escolhendo um caminho alternativo, mais próximo do público leigo do que do erudito, seus escritos tendem para uma conversação franca e aberta sobre as coisas do interior brasileiro, sobre o homem campesino, sobre a exuberância da natureza do interior do país. Militar de carreira, Proença debruçou-se sobre a vida e a obra de quatro ícones nacionais de nossas letras, perfeitos e acabados retratos de nossa essência: José de Alencar, Augusto dos Anjos, Mário de Andrade e Guimarães Rosa.
E eis aqui um dado admirável do autor de Manuscrito Holandês: ao contrário da quase totalidade dos críticos literários brasileiros, não optou por fechar com esta ou aquela corrente, seja Romântica ou Modernista; para ele, o nativismo estava acima de tudo. O mesmo poderíamos dizer de Afrânio Coutinho, cujo universo crítico ascende do nacional para o universal.
Poderíamos então afirmar ser Proença um retratista do Brasil, na mesma linha de investigação de Capistrano de Abreu, Paulo Prado e Alberto Rangel, só para citarmos alguns.
MACUNAÍMA
Livro que por si só é um tratado sobre a alma brasileira, em muitos aspectos, com seu jeito de rapsódia, Macunaíma (1928 ), de Mário de Andrade possui uma enorme fortuna crítica, só comparável à de Dom Casmurro, de Machado de Assis, ou Os Sertões, de Euclides da Cunha. Mas dois livros se destacam dos demais, ombreando lado a lado: Morfologia do Macunaíma, do poeta concretista Haroldo de Campos (1929-2003) e Roteiro de Macunaíma, de M. Cavalcanti Proença. Analítico, exegeta, minucioso, este último é um passo-a-passo para se entender a gênese, as variações e as muitas vidas do anti-herói criado pelo líder modernista.
A BAGACEIRA
Duas grandes ironias unem Macunaíma, de Mário de Andrade, e A Bagaceira, de José Américo de Almeida. Lançados no mesmo ano (1928) fundaram correntes diferentes do Modernismo brasileiro, sendo a obra do paraibano considerada o marco inicial do Regionalismo. Correntes diferentes, seguidores ainda mais adversos. Boa parte do corpus da crítica literária brasileira ainda hoje costuma esnobar a importância histórica de A Bagaceira para enaltecer as peripécias de Macunaíma, "herói de nossa gente". Não foi o caso de Proença, que debruçou-se sobre as duas obras, com louvor. Para o livro de José Américo fez um estudo clássico prefacial de aproximadamente 50 páginas, na famosa edição da Livraria José Olympio Editora.
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