COMENTÁRIOS
Queridos Leitores,
A partir de hoje, passo a comentar neste blog o meu livro "A Natureza e o Homem na Literatura Brasileira". Intercalando os comentários com a seleção de poemas que venho publicando todos estes meses e com os artigos diversos - resenhas e biografias - pretendo, assim, aproximar mais tanto o público leigo quanto o acadêmico da Literatura Brasileira. Esta é a essência de meu trabalho. A meu ver, desde os anos 70, a crítica literária e a inteligentsia acadêmica dos campi do país fecharam-se em uma concha um hermetismo estéril e vazio que acabou por afastar os leitores menos abalizados de nossa literatura nativa. Isto se reflete em muitos setores de nossa cultura, especialmente no nosso precário sistema educacional.
Por esta razão escolhi como patrono desta empreitada a figura de M. Cavalcanti Proença, um homem que amava acima de tudo a Literatura Brasileira e que deu primazia, em seus escritos, à perfeita (ou imperfeita) interação entre o homem brasileiro e a natureza que o circunda, fascínio que vem desde os primeiros cronistas do Descobrimento e que ainda segue nos dias de hoje, terminados os períodos áureos da Literatura.
Talvez alguns cheguem a julgar meu livro como integrante de uma linha ufanista. Se assim for, serei uma estrela desgarrada, remanescente temporão de uma época na qual o altruísmo, o amor pelas coisas pátrias estava na ordem do dia. O nativismo de José de Alencar, a pesquisa minuciosa do folclore em Mário de Andrade, o Movimento Verde e Amarelo do Modernismo, a Aquarela do Brasil, a música de Augusto Calheiros, o cinema da Atlântida e a Bossa Nova são variantes do mesmo exagero pátrio perpetrado pelo Conde de Afonso Celso no seu polêmico e hoje esquecido Por Que Me Ufano do Meu País.
No entanto, minha real intenção era revelar ao dois públicos, o indouto e o culto, alguns aspectos importantes no que toca à questão da natureza brasileira como vista pelos primeiros nacionais. Embora sejam bastante conhecidas e exploradas a questão da natureza como opção de fuga para o poeta citadino, recorrência do Arcadismo, embora o amor pelo primitivo e pelo selvagem em Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu e Alencar ainda toquem fundo no coração do povo simples do Brasil hodierno, ainda há algo que precisa ser dito.
Procurei enfatizar dois aspectos pouco explorados pela crítica literária brasileira. A questão da sacralidade, da natureza vista pelos Românticos do século XX como presente de Deus para o homem e como coisa a ser temida e preservada, é uma delas. A outra é a real intenção da natureza para o homem: bela, selvagem, majestosa, esplêndida, deslumbrante - nenhuma natureza igual à nossa! - mas, na verdade, convidativa, surpreendente, ambígua, cruel, trágica.
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