segunda-feira, 20 de abril de 2009





            

“Adoradores do Sol”: O ARTISTA-OPERÀRIO

 

            Certa vez assisti a um documentário sobre o veteraníssimo ator Karl Malden (o mais antigo ator ainda vivo, com 97 anos) e que fazia uma interessante colocação sobre o ator de Sindicato de Ladrões: um ator-operário, sempre disposto a dar o melhor e encarar qualquer papel que viesse. A partir daí desenvolvi uma tese segundo a qual alguns artistas comportam-se como se fossem disciplinados operários-padrões, visando diversos objetivos. Classifiquei-os em três categorias:

            A primeira é:


            “Tem trabalho, eu faço.”

Ou seja, pegam na vassoura, no esfregão, no balde e mandam ver. Para estes artistas, não importa a qualidade do roteiro, a possível rentabilidade do filme nem a futura receptividade do público. O Importante é estar em atividade. E ninguém mais representativo do que Nicolas Cage para exemplificar isto.

            Oriundo de uma tradicional família do cinema – sobrinho de Francis Ford Coppola, com quem trabalhou em Peggy Sue, e primo de Sofia Coppola, diretora do renomado Encontros e Desencontros, Cage optou por afastar-se do modelo familiar e artístico, abrindo mão do famoso sobrenome e preferindo uma carreira mais pop e escorregadia, alternando filmes ruins com filmes medíocres – todos de grande sucesso – com algumas preciosidades de vez em quando. Assim é que depois do magnífico O Senhor das Armas e deste lindíssimo O Sol de Cada Manhã – para mim o melhor de sua carreira – ele se volta para fazer coisas inacreditáveis como O Motoqueiro Fantasma.

            É importante observar que artistas que passaram anos de longo ostracismo ou sem conseguir um papel relevante em algum filme, como John Travolta e Christopher Walken, adotam esta postura tíbia. O primeiro é recordista em freqüentar a lista anual do Troféu Framboesa, o Oscar dos piores do ano. Já Walken declarou recentemente: “Hoje em dia não me preocupo mais com que filme vou fazer – o importante é que eu o faça.”

            Mas alguns fazem isto por prazer. O brasileiro Wilson Grey, o inglês Donald Pleasence, e os americanos Elisha Cook Jr. e J. T. Walsh  notabilizaram-se por longas carreiras marcadas pela presença no segundo escalão – sempre como atores-escada, sem se importarem com o tipo de filme ou com qual diretor trabalhassem. Cada um deles fez, no mínimo, 300 filmes (Pleasence fez mais de 500!), a maioria medíocres, sem nenhuma importância – só o prazer de trabalhar.

A segunda categoria é:

 

            “Ninguém quer fazer, eu faço.”

 

            Aqui entram os mistificadores da arte. Aquela cena difícil para a qual não parecia haver ator ou atriz disponível. Para embasbacar o público: um nu frontal, um beijo gay, uma cena sexualmente agressiva, ou mesmo Nicolas Cage – olha ele aí de novo – comendo uma barata em O Estranho Vampiro.

E quem mais senão ele,faria a tão criticada e odiada refilmagem do clássico Asas do Desejo, de Wim Wenders, agora americanizada como Cidade dos Anjos? Quem mais, senão Steve Martin, ator em franca decadência, faria as inacreditáveis refilmagens de Doze é Demais ( ainda teve a cara de pau de fazer a segunda – DUAS É DEMAIS!!!) e A Pantera Cor de Rosa, uma ofensa para a história do cinema?

            O público faz ooohhhh e os críticos medianos se perguntam: “Por que não ganhou o Oscar?” Levando-se em conta os princípios básicos da atuação e da representação, estabelecidos pelos dramaturgos gregos há mais de 2000 anos atrás...

            E a terceira é:

“Posso fazer melhor do que antes”

       

        Curiosamente, nos últimos anos, alguns consagrados atores vem desconstruindo suas carreiras, na contramão de seu prestígio conquistado. Comediantes como Robin Williams agora fazem filmes sérios e dramáticos como Insônia e atores sérios como Robert De Niro agora fazem comédias como Entrando Numa Fria e Bulwinkle. Os resultados variam do razoável , no caso de Williams ao insuportável, no caso de De Niro, a quem sempre considerei um canastrão disfarçado.


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