Antologias e seletas literárias geralmente terminam em polêmica e geram inimizades, azedando antigos relacionamentos entre os organizadores de tais compêndios e os que, de uma forma ou de outra, se julgaram preteridos. Eu mesmo sou um pouco reticente em relação aos critérios adotados, em geral pouco literários e muito ao gosto do editor.
Mas este Guia de Escritoras da Literatura Brasileira(EDUERJ – Editora da UERJ, 2006), da veterana Luíza Lobo, ela mesma uma das grandes escritoras aqui da terrinha, digna de figurar entre as 36 aqui selecionadas, está perfeito em sua seleção. Irretocável. Completo. O livro é simplesmente maravilhoso.
Estão todas lá: Auta de Souza, Francisca Júlia, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Gilka Machado, Cora Coralina, Nísia Floresta, Adélia Prado e muito mais. Só lamentei a ausência de Renata Pallotini e da pernambucana Marilene Felinto, uma escritora soberba, pouco lembrada pelos nossos cânones.
36? Alguém pode achar pouco, para dois séculos de ficção e poesia.brasileira. Mas é importante salientar que a nossa literatura pra valer começou tarde, depois de muitos ensaios. É a partir de Alencar, já com o Segundo Império se apagando, que ela ganha corpo e uma feição genuinamente brasileira. As mulheres lutaram muito para ir muito além dos afazeres domésticos e se inserirem no contexto sócio-cultural do Brasil. Cada uma delas é um capítulo de bravura e determinação, como são os casos de Narcisa Amália, Auta de Souza, Cecília Meireles e Cora Coralina.
Há duas coisas curiosas a destacar. A respeito de Clarice Lispector, a organizadora nos traz uma informação surpreendente. Até há algum tempo atrás dava-se o ano de 1925 como sendo o de nascimento da escritora. Agora sabe-se que nasceu em 1920, o que derruba a fantasiosa ficção de que teria escrito Perto do Coração Selvagem aos 17 anos. Caiu por terra o mito da adolescente precoce. Uma mistificação? É mais uma história para incrementar a extraordinária biografia da autora de Laços de Família.
Em relação à paulista Francisca Júlia, há uma incongruência. Diz ela, a respeito das estranhas circunstâncias de sua morte, que Otto Maria Carpeaux, no seu clássico Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, comenta sobre o “possível suicídio” da escritora. Pesquisei as várias edições do livro, nas páginas indicadas, e não encontrei tal referência ou comentário.
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