segunda-feira, 13 de abril de 2009

“Adoradores do Sol”:O CASO ADRIANO



Em uma de minhas obras, “Adoradores do Sol”, discuto temas ligados ao binômio fã/celebridade e a demais questões envolvendo carreira, sucesso, fama, posteridade e escândalos. O caso do jogador de futebol Adriano é um fato recorrente – mas não é inexplicável.

                        Em primeiro lugar, é preciso tirar o verniz de superficialidade imposto pela ingerência cultural imposta pela forma predominante de cultura no Brasil, a das Organizações Globo – notadamente em sua forma mais popular e aceita, a televisiva. Através desta somos condicionados a aprender e aceitar que todo mundo quer ser famoso, rico, belo, bem sucedido – e feliz. É o que procuram nos impingir o Big Brother Brasil, o Twitter, os vídeos no You Tube, e por aí vai. Ninguém mais se conforma com os 15 minutos de fama preconizados pelo glitter Andy Wharol.

                        Mas a prática logo derruba essa precária e falsa teoria. Nossos dois maiores artistas nacionais, os cantores/compositores Roberto Carlos e Chico Buarque, são pessoas tímidas, arredias, azedas com a imprensa, fugindo dos holofotes, apenas desejando perfazer sua arte em paz e longe de qualquer badalação. A história da cultura do século XX nos mostra um sem fim de gente eremita e que não está nem aí para os louros do sucesso: escritores como J. D. Salinger, Dalton Trevisan, Raduan Nassar e Rubem Fonseca não dão as caras nem para uma simples foto.

                        Músicos como Van Morrison, Tom Waitts e João Gilberto, por mais reclusos e exóticos que pareçam, na verdade apenas desejam que uma possível invasão de privacidade não lhes venha perturbar seu estado de contemplação e seu métier de composição. No cinema, a coisa é mais radical. Astros de ontem e de hoje, como Marlon Brando e Johnny Depp escolheram tratar os paparazzi  de maneira ingrata – o astro de Sweeney Todd  certa vez ameaçou bater nos fotógrafos que tirassem fotos de sua esposa,a cantora francesa  Vanessa Paradis e de seus filhos.

O imaginário brasileiro idealiza jogadores de futebol e cantores populares como pessoas dóceis, sempre prontas a dar autógrafos, distribuir sorriso e responder perguntas de pouca importância. Nem sempre é assim. O caso do Adriano me lembra exatamente o do cantor Luiz Melodia.

                        Costumo dizer que Melodia deveria estar hoje no sagrado patamar dos grandes da MPB, junto com Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Djavan e Gilberto Gil. Mas algo se perdeu pelo caminho. Como se diz no popular, ele tropeçou na sombra. “A sombra da neurose te persegue há quantos anos (“Ébano”)...Só o LP dele de 76 – aquele álbum de 4 que tem Estácio, Holly Estácio, Baby Rose e Congênito, entre outras canções -  seria suficiente para chamá-lo de gênio.

Numa entrevista dada ao JB há alguns anos atrás, ele explicou o que sucedeu depois do estouro de Juventude Transviada, gravada por Gal Costa em 1975. Assoberbado pelo repentino sucesso, fugiu do assédio do público e dos jornalistas, indo esconder-se em Salvador, até que a onda passasse. De lá para cá construiu uma carreira acidentada, como a premiação polêmica da citada acima Ébano em um Festival da Canção, e relações difíceis com gravadoras e com o público. Chegou a ser enxotado de um show no Rio pela platéia.

                       

Nenhum comentário:

Postar um comentário